Espécies Invasoras
BALLAST WATER: a risk not only for ecosystems
Espécies aquáticas invasoras, assim como as características físico-químicas da água de lastro, estão entre as maiores ameaças aos oceanos do mundo e podem causar impactos extremamente graves nas condições ambientais, econômicas e de saúde pública.
A água de lastro é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde e pela Organização Marítima Internacional como um dos principais vetores para a disseminação de espécies exóticas potencialmente invasoras, sendo responsável pela transferência diária global de diferentes espécies marinhas.
A água de lastro normalmente contém uma variedade de materiais, incluindo plantas, animais, protozoários, ovos, larvas, esporos, vírus e bactérias. Existem centenas de organismos transportados na água de lastro que causam efeitos ecológicos fora de seu ambiente natural, ou seja, nos diferentes biomas onde podem ser liberados.
Além das consequências para os ecossistemas, a invasão de espécies pela água de lastro causa grandes prejuízos econômicos em todo o mundo. A saúde humana também é afetada pela disseminação de doenças como intoxicação paralítica por moluscos, surtos de cólera, entre outras.
A Organização Marítima Internacional lista as dez espécies mais indesejadas nas operações com água de lastro.

Vibrio cholerae
Como prometido na última postagem, vamos mostrar em sequência 10 das espécies mais indesejadas que podem se espalhar através da água de lastro.
A primeira é a Vibrio cholerae.
Vibrio cholerae é a bactéria que causa a cólera: uma infecção intestinal aguda provocada pela ingestão de alimentos ou água contaminados com essa bactéria.
Há uma grande preocupação quanto à transmissão de bactérias potencialmente patogênicas. E uma das possíveis rotas é a água de lastro, pois diversas entidades ao redor do mundo detectaram Vibrio cholerae em moluscos coletados dos tanques de água de lastro de vários navios.
A epidemia mais conhecida na América do Sul começou no Peru, em 1991, afetando milhões de pessoas. No Brasil, o surto apresentou o maior número de casos durante os anos de 1993 e 1994.
Por conta disso, o padrão IMO D-2 especifica que os navios só podem descarregar água de lastro que atenda ao seguinte critério:
Vibrio cholerae toxigênico (O1 e O139) com menos de 1 unidade formadora de colônia (ufc) por 100 mililitros.
Cercopagis pengoi
A segunda espécie indesejada é o pulga-d’água Cladócera Cercopagis pengoi, também conhecida como pulga-d’água de anzol. Trata-se de uma espécie de crustáceo cladócero planctônico, nativa do Mar Negro e do Mar Cáspio.
Ela se tornou uma espécie invasora nas últimas décadas e se espalhou por diversos cursos de água doce e reservatórios da Europa Oriental e pelo Mar Báltico. Posteriormente, foi introduzida nos Grandes Lagos da América do Norte e em diversos lagos adjacentes por meio da água de lastro.
Esses organismos representam uma ameaça socioeconômica, pois interferem na pesca ao obstruir redes e equipamentos de pesca. Além disso, são predadores vorazes e podem reduzir significativamente a densidade de suas presas, como os cladóceros de pequeno porte. Como consequência, isso pode agravar problemas de eutrofização (excesso de nutrientes na água, levando à degradação da qualidade da água e proliferação de algas).


Mitten crab
Devido à densa camada de pelos em suas garras, Eriocheir sinensis é popularmente conhecido como caranguejo-mitene. Esta é a TERCEIRA ESPÉCIE INDESEJADA da nossa lista.
Ela é originária do Extremo Oriente, com distribuição nativa na província de Fujian, na China. Podemos listar diversos impactos causados por esse caranguejo. Abaixo, os principais:
Impactos econômicos:
- Acelera a erosão de diques e margens de rios, devido à constante atividade de escavação.
- Afeta a pesca comercial e recreativa, pois danifica redes, mata espécies ao se enroscar nas redes, causa perda de iscas e danos aos equipamentos de pesca.
Impactos ambientais:
- Com um apetite voraz, os caranguejos-mitene atacam a fauna local, alterando cadeias alimentares e afetando a pesca.
- São capazes de causar desequilíbrios na cadeia alimentar aquática em habitats de água doce e estuarinos.
- São onívoros e não têm seletividade na alimentação.
Impactos sociais:
- Essa espécie pode ser hospedeira do verme pulmonar (Paragonimus westermani) na Ásia.
- Mamíferos, inclusive humanos, também podem se tornar hospedeiros desse parasita ao consumir caranguejos crus ou mal cozidos.
Toxic algae
Algas tóxicas (marés vermelhas / marrons / verdes)
O termo algas abrange diversos tipos de organismos fotossintetizantes aquáticos, tanto os macroscópicos e multicelulares, como as algas marinhas, quanto os microscópicos e unicelulares, como as cianobactérias.
Essa é a quarta espécie indesejada da nossa série.
O aumento rápido da população de algas é chamado de floração algal (algal bloom) e é reconhecido pela descoloração da água devido aos pigmentos dessas algas.
A lista de impactos causados por algas tóxicas é extremamente extensa. Vamos destacar os principais:
– Podem bloquear a luz solar, impedindo que outros organismos fotossintetizantes sobrevivam, o que leva à redução dos níveis de oxigênio na água e morte em massa da vida marinha;
– Podem sujar praias e impactar negativamente o turismo e lazer;
– Podem contaminar moluscos filtradores, levando ao fechamento de áreas de pesca;
– A mortalidade de peixes representa um grande impacto econômico;
– Podem causar doenças graves em humanos devido ao consumo de frutos do mar contaminados, como:
• Intoxicação Paralítica por Moluscos (PSP)
• Intoxicação Diarreica por Moluscos (DSP)
• Intoxicação Amnésica por Moluscos (ASP)


Round Goby
O goby-redondo (ou Neogobius melanostomus) é nativo do Mar Negro e do Mar Cáspio e seus afluentes, mas se espalhou e agora está estabelecido em vias navegáveis dos EUA e do Canadá. É um dos peixes invasores mais bem-sucedidos das últimas décadas. Esta é a quinta espécie indesejada da nossa série.
O N. melanostomus pode atingir 25 cm de comprimento e possui várias características biológicas que facilitam sua invasão, tais como: ampla distribuição nativa, alta tolerância a condições ambientais, adaptação a qualquer habitat, alimentador oportunista e reprodução múltipla durante uma longa estação reprodutiva. Sua capacidade de sobreviver em condições adversas, até mesmo em ambientes degradados, ajudou a aumentar sua vantagem competitiva em relação às espécies nativas.
É um predador voraz que se alimenta de uma variedade de organismos bentônicos invertebrados, ovos de peixes e, predominantemente, de moluscos (como o mexilhão-zebra).
O N. melanostomus não possui valor comercial e pode impactar negativamente a atividade dos pescadores, pois frequentemente é capturado em vez de peixes esportivos.
Essa espécie representa um grande desafio para os ecossistemas aquáticos locais e pode prejudicar a pesca comercial e recreativa, além de alterar as cadeias alimentares locais.
Green Crab
Carcinus maenas
Carcinus maenas é uma das espécies invasoras mais devastadoras, afetando gravemente muitos ecossistemas por meio de predação, competição e alteração de habitat.
É nativa do noroeste da Europa, mas se espalhou para diversos continentes. É considerada onívora, ou seja, possui uma dieta extremamente variada.
A competição com outras espécies pode causar danos econômicos à indústria de caranguejos e moluscos.
A redução da abundância de moluscos devido à predação de C. maenas afeta a segurança no emprego e a renda proporcionada pela pesca comercial e recreativa de caranguejos e moluscos.
A dieta onívora de C. maenas pode degradar habitats e a biodiversidade, pois ela se alimenta de espécies de mais de 100 famílias, podendo até provocar extinções de espécies nativas.
Esse caranguejo é um exemplo clássico de como espécies invasoras podem alterar não só o equilíbrio ecológico, mas também prejudicar economias locais e meios de subsistência.


Asian Kelp
Undaria pinnatifida é uma alga marrom que pode atingir entre 1 a 3 metros de comprimento. É nativa do nordeste da Ásia e da Rússia, mas se espalhou para a Europa, Américas e Austrália, pegando carona nos tanques e cascos de navios.
Seus principais impactos são:
– Pode se tornar um problema sério para fazendas marinhas (de mexilhões, salmão) e embarcações, pois aumenta os custos com mão de obra devido à incrustação. Infestações maiores podem ainda entupir equipamentos de cultivo, atrasar o crescimento dos mexilhões e restringir a circulação da água;
– Tem o potencial de modificar a estrutura de ecossistemas, especialmente em áreas onde não existem algas nativas, ocupando nichos vazios;
– Pode alterar o habitat, o ecossistema e a cadeia alimentar, afetando os estoques comerciais de moluscos por meio da competição por espaço e nutrientes e mudança no habitat.
Undaria pinnatifida, além de ser um exemplo de espécie oportunista, também demonstra como organismos aparentemente inofensivos podem desequilibrar ecossistemas inteiros, afetando tanto o meio ambiente quanto atividades econômicas.
Zebra Mussel
Dreissena polymorpha
O mexilhão-zebra é originário do sudeste da Rússia e se espalhou por diversas vias navegáveis ou foi transportado por navios para diferentes regiões do mundo.
A característica mais marcante do D. polymorpha é o padrão listrado de cores claras e escuras em sua concha. Seu nome específico, “polymorpha”, vem justamente da variação na cor, padrão e forma da concha, que pode assumir diversas aparências.
A lista de impactos causados pela disseminação desse mexilhão é extensa, por isso, vamos destacar os mais graves:
– Sua capacidade de formar grandes agregados gera impactos econômicos sérios, pois eles se acumulam em tubulações, restringindo o fluxo de água, aumentam a corrosão e provocam incrustações em bombas;
– Causam danos severos à biodiversidade, pois podem se fixar sobre outros organismos, reduzindo sua capacidade de locomoção, alimentação e respiração, o que pode levar à morte do hospedeiro;
– Podem degradar praias, pois ao se decompor, liberam mau cheiro, e suas conchas afiadas representam risco para banhistas, afastando o turismo e prejudicando atividades recreativas.
O mexilhão-zebra é um dos maiores exemplos de como uma espécie exótica invasora pode impactar infraestrutura, meio ambiente e economia de maneira devastadora.


North Pacific Seastar
Asterias amurensis
A penúltima espécie da nossa série das 10 indesejadas é a estrela-do-mar do Pacífico Norte.
Essa espécie é nativa do Japão, Rússia, norte da China e Coreia, e pode atingir até 50 centímetros de comprimento. Possui coloração amarela, com pigmentação vermelha e roxa em seus cinco braços e um pequeno disco central.
Asterias amurensis tem um grande potencial de proliferação em novas áreas, sendo uma espécie amplamente conhecida e espalhada, o que torna sua erradicação praticamente impossível.
Essa estrela-do-mar é considerada uma praga séria para os organismos marinhos nativos, pois é um predador voraz, com preferência por mexilhões, vieiras e amêijoas.
No Japão, surtos dessa espécie já causaram prejuízos milionários à indústria de maricultura.
Portanto, essa espécie representa uma grande ameaça à biodiversidade, podendo levar à perda de espécies nativas e ameaçadas de extinção, além de impactar fortemente a aquicultura e a pesca comercial.
Comb Jelly
Mnemiopsis leidyi
A última espécie indesejada da nossa série — mas nem por isso menos importante — é a carambola-do-mar, também conhecida como Comb Jelly.
Mnemiopsis leidyi é nativa das águas costeiras do Atlântico Ocidental, mas se espalhou por diversas regiões da Europa e Ásia. Pode atingir até 100 mm de comprimento. Possui quatro fileiras de pequenas faixas ciliadas, que apresentam brilho iridescente durante o dia e podem emitir luz verde à noite (bioluminescência).
Essa espécie se alimenta excessivamente de zooplâncton, esgotando os estoques e alterando a rede alimentar e o funcionamento dos ecossistemas. Isso causa uma competição direta com vários peixes comerciais, que também se alimentam do mesmo zooplâncton.
Entre os principais impactos ambientais, destacam-se:
Redução da transparência da água,
Alteração na composição de nutrientes,
Mudanças na biota aquática (impactando diversas espécies nativas).
Mnemiopsis leidyi é um exemplo claro de como uma espécie aparentemente inofensiva pode desequilibrar profundamente um ecossistema inteiro quando transportada para ambientes onde não possui predadores naturais.
